segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Portugal: "O Grande Salto para trás"






A palavra competitividade está na ordem do dia. Temos que ser competitivos para exportar mais, dizem-nos. Porque só disto depende a nossa recuperação. A tal teoria do deserto para lá do défice. Nada mais interessa do que o aclamado superavit (balança comercial positiva). Conseguimo-lo há pouco tempo, como já o tínhamos conseguido em 1943. A questão é: a que custo?


O Novo Código Laboral é a suprema concretização dessa teoria. Devemos empobrecer para depois enriquecer. Incentivando a “flexibilidade” laboral promovemos o emprego, baixando os salários criaremos mais postos de trabalho etc etc. Não será exagero quando dizem que caminhamos para uma “chinesização” do mundo laboral. De facto, dificilmente haverá um país cujo PIB cresça tanto, há tanto tempo (falo da China). Mas, mais uma vez repito a questão. A custo de quê? Jornadas de 12 horas, poucos ou nenhuns apoios sociais, enfim, precariedade. É este o modelo que se quer instituir em Portugal? O “darwinismo” social nunca deu bons resultados. Em termos civilizacionais seria “O Grande Salto para trás”.


Finalmente, é sempre bom ter a visão externa dos nossos problemas. Isso aconteceu há pouco mais de 10 anos, com o pouco conhecido Relatório Porter, elaborado por um académico conhecido nos meios do Marketing e que nos deixou alguns conselhos que importam resgatar. Michael Porter aconselha-nos a apostar mais nas empresas “caseiras”, ou seja, nos clusters regionais. Algo que dificilmente possa ser “chinesado”, portanto. Neste ponto, as atitudes do governo deixam a desejar. Foi de facto instituída uma linha de crédito, com o objectivo de apoiar estas empresas (as eleitoralmente aclamadas PME´s). Contudo, com taxas de juro de 5%, o objectivo é deturpado.


Mas, Porter também deixou uma importante máxima que é importante recordar. Dizia ele. “Devaluation does not make a country more competitive”. É isso que estamos a fazer, não pela via cambial, mas sim pela salarial. O académico com certeza olhou mais para norte, quiçá para os países nórdicos. Nós continuamos com os olhos postos a leste. Apesar de sabermos que esse não é o caminho.

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