segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Eleições antecipadas? Apostas improváveis



Diz-se, por aí, que o governo não passará de 2013. Este fim do mundo maia para o governo PSD/CDS-PP baseia-se numa data que os profetas previram como sendo o ponto crucial dos objectivos desta Aliança Democrática: o regresso aos mercados em 2013. Fala-se que a falha do governo em atingir os objectivos a que se propôs, juntando à contestação social de que tem sido alvo, terá como fim a queda do executivo. Tal não passa, como lembra André Freire no Público, de uma hipótese remota visto que o governo está solidamente apoiado por uma maioria cimentada que não mostra sinais de se desintegrar.
Contudo, façamos um exercício de futurologia, e imaginemos que, hipoteticamente, se dá uma cisão na maioria e que os centristas escolhem abandonar o governo. Ponderemos uma eventual queda do executivo, consumada através de uma qualquer moção de censura de um dos partidos do parlamento. Deparar-nos-íamos com um cenário eleitoral em que os diferentes partidos teriam de se afirmar como alternativas. Vejamos:
· O CDS-PP, apesar de marcado pela “cumplicidade” nas medidas de austeridade impostas pelo governo, mantém um líder em estado de graça, sendo Paulo Portas o político mais popular em Portugal. O facto de os ministros centristas adoptarem uma postura low-profile também faz com que não sejam tão contestados. Seria uma oportunidade de ouro para os centristas reforçarem a sua base eleitoral. Passaria o CDS, definitivamente, de partido do táxi para algo mais?
· O PSD é, sem dúvida, um partido desgastado pela governação. Ainda para mais, estando num período de emergência, as medidas adoptadas não as mais populares. Todavia, os sociais-democratas não parecem completamente derrotados, embora o PS se vá aproximando.
· O PS é, sem dúvida, o caso mais “bicudo”. Acreditando na rotatividade bipartidária característica da política portuguesa, os socialistas afiguram-se como a alternativa principal ao governo PSD/CDS-PP. Contudo, os socialistas atravessam um período de forte convulsão interna. António José Seguro não é, definitivamente, um líder consensual. Os chamados “socráticos” contestam o secretário-geral, sendo que a oposição mais intensa parece vir da chamada “ala-esquerda” do PS onde se exige uma demarcação mais intensa das políticas do governo e do “ir mais além” do memorando da Troika proposto pelo governo de Passos Coelho. Para mais, numa recente entrevista António Costa lança-se, tacitamente, à liderança do partido. Todavia, umas eleições antecipadas poderiam abonar em favor de Seguro, obrigando o partido a juntar-se em torno do actual líder de forma a conseguir eleger um primeiro-ministro.
· O Bloco de Esquerda afigura-se um caso de mais difícil de analisar. A sua base eleitoral é oscilante (como se viu nas últimas eleições) e parecem não juntar-se em torno da ideologia do partido, mas sim na defesa de políticas concretas deste último. Com as vitórias parlamentares de certas bandeiras-chave do partido, o BE precisa de se reinventar. Os ecos de um certo autoritarismo exercido por Louçã dentro do partido não ajudam e tal, precisará de ser discutido dentro do partido, de forma a que o Bloco surja como alternativa. Não será desta que surgirá o Syriza português.
· O PCP, a acreditar no que tem sido desde sempre a base eleitoral do partido, não parece ser um candidato ao governo. Mantendo um sectarismo ideológico que embora seja adoptado por parte significativa da população (10% a acreditar em sondagens), é rejeitado pela maioria. Apenas o momento de emergência vivido e as críticas assertivas que o PCP faz à banca e a todos os outros culpados da crise lhe podem granjear um pouco mais de simpatia eleitoral.
Em suma, reiterando que tal cenário se afigura como extremamente improvável, umas eleições antecipadas afiguram-se como extremamente nebulosas próprio do momento sensível que vivemos. Mas mesmo assim não vemos nada de novo. Em vantagem parte um CDS que continua popular mas que, por razões históricas, parece não ter ainda traquejo para se assumir como governo. Esse será disputado pelos suspeitos do costume, os dois partidos do afamado Bloco Central. Qual deles não se sabe. De um lado temos um PSD agastado pela governação e do outro um PS que ainda não se posicionou. Quanto aos partidos à esquerda dos socialistas, ainda não parecem ter encontrado forma de ir de encontro ao que a maioria dos portugueses desejam.

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