terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Do Populismo: Contas de merceeiro como arma política




Por muito que seja a injustiça de não terem havido cortes substanciais nos vencimentos de deputados (que eu saiba), fazer passar propaganda de que se eliminarmos 100 deputados (parlamentares?), teremos dinheiro para pagar a 34.400 professores, não passa disso mesmo...propaganda.

Vejamos os números: "Segundo os dados da Federação Nacional de Professores, um docente com 15 anos de serviço viu o seu ordenado bruto ser reduzido em 2011 de 1982 euros para 1913". Ora, como isto se refere a uma pessoa com 15 anos de serviço, e os dados são de 2011, vamos diminuir a parada. Um salário médio de professores (mesmo contabilizando aqueles em final de carreira) de 1000 euros (há quem calcule em 1250). 

Ora, o salários dos "representantes do poder legislativo e de órgãos executivos passou de 5.605 euros para 5.686 euros". Note-se que a notícia parece misturar salários dos governantes com deputados, o que ainda inflaciona os cálculos finais. Mas é injusto? Talvez. Fica ao critério de cada um. Há quem ache que um deputado deveria ganhar o salário mínimo? Boa sorte ao tentar torná-los impermeáveis à corrupção e a atrair os melhores para o exercício destes cargos.

Mas o ponto nem é este. A minha pergunta é: quantos professores paga um salário de 5.686 euros? Se formos pela média acima estipulada a resposta: 5,7. E agora, imagine-se que íamos pelo populismo e, de facto, cortávamos 100 deputados. Pelas minhas contas pouparíamos 568. 600 euros/ mês. Muito bem, eu até acho que se deva poupar. Mas, e quantos professores seriam salvos com esta medida? Se dividirmos este valor, por salários de 1000 euros (a média), conseguiríamos um saldo de 568,6 professores. Mas afinal não eram 34.400? Pois, é o que dá fazer contas à populista. 

O autor do post, não era com certeza professor de matemática. Mas este é apenas mais um exemplo, do que vai por essas redes sociais. E para quem preza tanto a educação, este tipo de desinformação é no mínimo...incongruente. 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Ensino Superior: Um Bloco de Esquerda incoerente



Surge de novo, em força o debate acerca do Ensino Superior. As Universidades Públicas lutam por conseguir meios para ser sustentáveis. As recentes notícias dão por conta que pedem a antigos alunos por contribuições para ajudar o Ensino Superior.

O que alguns chamam de caridadezinha, eu apelido de reconhecimento. Reconhecimento por parte dos alumni, que agradecem à Universidade ter-lhes proporcionado um ensino que lhes permitiu ter chegado mais longe, e reconhecimento por parte da Universidade aos alunos que conseguiram vencer na vida. Por isso, é uma falsa polémica dizer que estamos perante caridadezinha.

O autor do texto, ao dizer que tal coisa retira credibilidade ao ensino universitário nacional, com certeza não olhou muito para o que se passa lá fora. É aliás uma das universidades mais afamadas a nível mundial (Princeton, nos Estados Unidos) que tem maior percentagem de alumni mecenas. Julgo que a Universidade não perdeu credibilidade e posso dizer que sozinha tem mais credibilidade que todas as universidades nacionais.

Concordo com o autor do texto num ponto. O estado do ensino é calamitoso. Mas aqui contradiz-se. Quer que as propinas se mantenham inalteradas (porventura quererá que baixem), mas desdenha fundos preciosos vindos de ex-alunos. Esquece-se que um euro a mais na conta bancária da Universidade é um euro a menos nas propinas de um aluno. Em tempos de crise, toda a ajuda é bem-vinda.

Tanto é bem-vinda que acho que poderíamos ir mais longe. Por exemplo, aumentar as parcerias com o sector empresarial, com instituições etc etc. Uma ideia: os alunos de mestrado e doutoramento,  deveriam ser encorajados a promover esforços no sentido de criar produtos e melhorias tecnológicas que possam ajudar empresas de sectores particulares . No caso das engenharias e ciências, apresentar ideias para desenvolver de produtos, estudar maquinaria etc. E deveriam tentar encontrar empresas que financiassem o seu esforço académico, já que estas seriam as principais beneficiárias do seu esforço. O mesmo se passaria com os alunos das ciências sociais. Apresentar projectos que fossem do interesse de instituições tanto nacionais como internacionais, relativo a temas de análise política, sociológica e afins. And so on...

Não compreendo o medo de parceiras com privados no fornecimento de fundos às Universidades e do financiamento de mestrados e doutoramentos. Claro que essas empresas não o fariam apenas por solidariedade pura, mas também porque precisam de mão-de-obra qualificada e de melhorias tecnológicas que as ponham um passo à frente da concorrência. Assim, como se de uma certa "mão invisível" se tratasse, o interesse das empresas reverteria em favor daqueles com o génio e engenho de apresentar projectos inovadores. Quem ganharia com isso? No final de contas, toda a economia e com ela todos nós.

Agora o que não podemos ser é incoerentes: desdenhar apoios privados com o caso dos alumni e, logo de seguida, exigir amnistia total de propinas. Tentemos também não ver tudo através de um espectro ideológico. Diabolizar a iniciativa privada e a sua importância para a sua sociedade é um espectro que espero ver ultrapassado. 


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Desemprego: Um governo em contra-mão.



Podem achar muito estranho, mas eu realmente tenho esta ideia: o Governo arrisca-se a destruir o que se propôs construir: um Estado mínimo, sem uma população excessivamente dependente de um "nanny-state". Aliás, isto sou eu a ser ingénuo. Tenho as minhas dúvidas quantos às reais intenções deste governo em realmente libertar a sociedade do Estado. A máquina partidária move-se como se move em Portugal e precisa do Estado como de pão para a boca, como todos sabemos.

Falo a partir da faixa etária onde me insiro: isto algures entre os 20 e os 30 (podemos esticar a coisa em alguns casos). Nós não queremos viver do Estado Social. Caramba! O nosso sonho (da maioria, pelo menos) é trabalhar, ter independência, quiçá ser empreendedor (nem todos queremos e nem todos podemos, claro) e, com muita sortinha, ser talvez um Zuckerberg ou um Steve Jobs (pedir isso em Portugal é como pedir bananas na Finlândia, mas pronto...).

Duvido que a maioria deseje viver, para sempre, do subsídio de desemprego. Mas também não é baixando-o abruptamente espremendo-o ao máximo que vamos criar uma sociedade independente do Estado. Não sem procurar criar a segurança de um emprego. Aliás, na minha humilde ignorância, acho que se corre o risco do contrário. Uma sociedade excessivamente desamparada clama sempre por mais protecção. Sempre. Isso equivale a mais Estado, não a menos. Os tímidos, mas elucidativos, avanços eleitorais da extrema-esquerda falam por si...

Ora, continuando a minha análise, julgo que isto devia ser um percurso com duas faixas. Bem sei que o caminho do crescimento não é tão fácil como se propala por aí. Sei ainda melhor (estamos todos a senti-lo, aliás) que mais difícil se torna quando se está asfixiado por uma dívida abissal.

Mas há coisas que podiam ser feitas e que não custavam assim tanto (porra, algumas até estão no memorando!): captar investimento estrangeiro. Como? Baixando o IRC (a Irlanda tem um de 12,5% e o nosso é o dobro, porquê tanto bla bla?) e reformando a vergonha de Justiça que temos. E - pasme-se! - há ainda coisas que podiam ter sido evitadas. Tipo aumentar ainda mais a burocracia.

Reconheço que não dou soluções mágicas (quem me dera tê-las, podiam dar o meu nome a uma escola ou assim...), mas também sei que estão a criar uma geração de dependentes (e de indigentes) ao não permitir a criação de emprego. Sei que não é possível crescer por decreto e, para criar empregos e um dia - quiçá- aumentar salários, teremos de ser um país atractivo para o capital. E fazemos isso ao convidar e encorajar a iniciativa privada, não ao afastá-la.

Resumindo, pergunto a todos os ministros e secretários de Estado: Vocês não entendem o rumo que estão a tomar? Não percebem que se arriscam a ser os artífices do socialismo na próxima geração? Não percebem que estabeleceram um caminho oposto ao do que se pretenderam? Não entendem que estão a criar um "monstro"?

domingo, 17 de fevereiro de 2013

TedTalk: Factos e Ficção na Internet

Deixo aqui uma interessante TedTalk, sobretudo para quem lida com informação:

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Dívida: Juro que não é pelos juros



Anda aí à solta a retórica de que basta não pagar juros e esta treta ia toda ao sítio. Chegam-se a falar em juros agiotas quando pagámos os juros mais baixos da história da democracia. Argumento que cai logo por terra, bastando ler isto: 


Mas então, se mandarmos a troika com os pastorzinhos, que alternativas nos restam:

  • Os mercados: na última emissão de dívida a cinco anos a taxa de juro ficou nos 4,89%, sendo que agora até já subiu para 5,3%. Ora, se mandarmos a troika ir ver se está a chover, nem quero imaginar para onde disparariam estes juros. Tipo, era o mesmo que ninguém nos emprestar dinheiro. Porquê, perguntamos nós? Moral hazard. Traduzido: porque achamos que vocês não vão pagar de volta.
  • Mas atenção. O mundo não é só a Troika. Temos a China, a Rússia e a Arábia Saudita, por exemplo. Eles sim, eles podiam-nos emprestar dinheiro! Mas bem, sejamos sinceros, a não ser que acreditemos que o Putin, o Xi Jinping e Rei Abdallah bin Abdul Aziz Al-Saud, se tenham tornado santos do dia para noite é difícil de crer que não quisessem algo de volta. Foi o filme que foi com a compra de parte EDP por parte dos chineses, imagino se eles nos emprestassem dinheiro e começassem a mandar o Passos ensinar o povo cantar o The East is Red. Bem, pelo menos isso ia agradar ao MRPP e à UDP. Mas...e os russos? Afinal, eles emprestaram dinheiro aos cipriotas, carago! Porque os cipriotas são uns gajos porreiros? Wrong! Porque os russos tinham lá cerca de 25 mil milhões empatados e não se podem dar ao luxo de perdê-los. Nós o que temos para dar aos russos? Matrioshkas?
  • Não pagámos a dívida. Pronto, ninguém nos empresta dinheiro. A economia tem que se direccionar para o pagamento das contas do Estado. Dificilmente isso não significaria mais impostos. Claro, os investidores estrangeiros nem quereriam meter cá os pés. A Argentina fez isso. Não consegue há dez anos arranjar um euro, no mercado diz o economista Ricardo Reis na edição impressa do Económico. Safou-se (mais ou menos), dizem, porque o valor dos produtos que exporta conseguiram, porventura,  valorizar-se.
Resta-me crer que, no fundo, os anti-troikistas, são os troikistas, mais ferrenhos. Porque sabem que as alternativas são piores, bastante piores. E a troika, e os nossos credores sabem disso. Sabem, que nós não temos muito para onde nos virar. Por isso, também não podemos esticar a corda. 

Moral: não é daqui a 6 meses que iremos negociar de joelhos, como dizia o Artur Baptista da Silva. Caímos de joelhos e mão-estendida quando chamamos a Troika. E não, não culpo o Sócrates. Culpo-o em parte. Infelizmente, o problema é muito mais antigo e profundo. Juro que não é pelos juros (que isto vai ao sítio). 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Política: O "ultraliberalismo" de um governo pseudo-liberal



Aqui vai um rol de medidas que falam por si (e pelo liberalismo deste governo). Não estão ordenadas cronologicamente, nem estão aqui todas. Aceitam-se mais sugestões:


  • Maior aumento de impostos em democracia - esta talvez tenha sido a medida mais ultraliberal deste governo
  • Decretos Lei 197/2012 e 198/2012 : aumento da burocracia estatal. Hiperliberal
  • TV Rural - Estado a deliberar acerca de grelha de programação de um canal. Extraliberal.
  • Intenção de aumentar o salário mínimo (ainda para mais com empresas asfixiadas economicamente). Superliberal
  • Não-privatização da TAP e RTP. Megaliberal. 
  • Até a porcaria da confusão com o Chatham House Rule e da confusão com a imprensa foi altamente liberal. 
De qualquer das formas, quem quiser mais uma mão-cheia de exemplos, aqui fica uma conferência que deverá destruir muitos mitos

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sociedade: A minha concepção de casamento

Perguntam-me muitas vezes: qual é a tua concepção de casamento? Se não respondo, apetecia-me. Diria: "Não é certamente a mesma que a tua, ou do que a de fulano. E a de fulano não é, certamente igual à tua. E a de fulano, não é, certamente igual à de sicrano. E nenhum deve procurar impor a sua visão a outrem".

Trocando por miúdos, a visão de Isabel Moreira não é, certamente igual à do Cardeal Policarpo. E o Estado não deveria impor a sua visão a nenhum deles.

Quem me interessa a mim que x chame à sua união "casamento" ou que y prefira apelidá-lo de "companheirismo" ou coisa que o valha? Mas, bem, talvez seja melhor pô-lo em "americanês" para o percebermos:


 
O Talho da Esquina © 2012