quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

UE: Como consertar uma Europa em pedaços?



Enquanto se defende uma aproximação europeia, na forma de uma união política, parece que esta está cada vez mais a afastar-se.

E se, por um momento, pensássemos que são os políticos europeus que estão a tornar esta realidade algo passível de acontecer. E se, políticos bem-intencionados estiverem, através de medidas também bem intencionadas, a gerar desconfiança para com Bruxelas?

Não falo na crise em si e das rivalidades norte-sul que têm sido amplamente debatidas. Estou a focar-me antes em medidas inconscientes que não tem qualquer noção da realidade dos países. Serão, entre outras, uma desejada harmonização fiscal na zona euro (algo já defendido publicamente por alguns eurodeputados), o desejo de um salário mínimo europeu expresso por Jean-Claude Juncker e outras directivas que têm sido passadas, como a questão das quotas para mulheres e demais directivas burocráticas.

O grito do Ipiranga foi dado por Cameron ao agendar um referendo para aferir a vontade dos britânicos de permanecerem na UE. Claro que houve uma parcela grande de estratégia política, pelas pressões internas (no partido) e externas (pela proeminência que o UKIP tem alcançado). Mas é insensato reduzir tudo a isto.

Há, de facto, um grande desconforto quanto à União Europeia e um apoio crescente a países que advogam a saída desta comunidade. Já em 2004 (a crise era só uma miragem) 45% dos entrevistados numa sondagem em Londres admitiam poder vir a votar em dois partidos mais nacionalistas/eurocépticos, o British National Party e o UK Independence Party.

E desengane-se quem pensa que isto é apenas uma realidade da Inglaterra que, poderemos dizer, nunca se sentiu à vontade na UE. Não, o nacionalismo e o eurocepticismo têm ganho espaço em diferentes países europeus. Nunca é demais lembrar que o resgate português esteve bloqueado por um partido cada vez mais proeminente na Finlândia, os "Verdadeiros Finlandeses".  Ou que os nacionalistas já chegaram a formar governo, como foi o caso do Party for Freedom de Geert Wilders na Holanda, ou o também Partido da Liberdade, que chegou a integrar uma coligação no governo austríaco.

Não só no Norte se tem observado este fenómeno.Também nos países do Sul (e intermédios) o nacionalismo e a descrença na UE (que é uma entre outras bandeiras) se fazem sentir. Em França temos a Frente Nacional com 20% dos votos, em Itália o movimento populista "5 estrelas" que, estando na segundo posição nas intenções de voto exige um referendo semelhante ao que foi prometido por Cameron. Mesmo na Grécia pré-crise e pré-Aurora Dourada, um partido de extrema-direita (o LAOS) chegou a integrar o governo.

Por isso, e tendo em conta este cenário geral, devemos perguntar-nos: que fazer? Devemos pôr a união política à frente dos desejos dos europeus? Quererão os ingleses, os italianos, os holandeses, os gregos e companhia uma Europa Federal? Dou o braço a torcer e digo que já almejei essa finalidade. Mas, se reflectirmos, vemos que nem todos os países estão para aí virados. Ingleses talvez sejam o exemplo mais proeminente, mas e os irlandeses que chumbaram o Tratado de Lisboa?

P.s. Por isso, antes de pensarmos em democratizar a UE, devíamos pensar primeiro: todos os membros querem realmente unir-se politicamente? Se não, que fazer? Uma solução middle-of-the-road, como um sistema confederado? Fica a ideia de mais um debate (ao bom estilo português!).


3 comentários:

Anónimo disse...

Porquê um sistema confederado? Pouco depois viria o sistema federado. Já bastam os grandes Estados nacionais onde a democracia é uma farsa.
A Europa necessita de Estados mais pequenos onde um sistema realmente democrático tem mais possibilidades de ser concretizado. Poderiam os pequenos estados, organizar-se para efeitos de defesa, polícia e transportes. Mas uma organização ad hoc, sector por sector. O império russo desmembrou-se, talvez se desmembrem os Estadus Unidos... da América. Então sim, umas Nações - não Unidas - mas associadas.

É um mero desabafo. Obrigado pela atenção.

João Baptista
http://partido-libertario-portugal.blogspot.pt/

Anónimo disse...

Tomo a liberdade de, no meu blog, incluir link para este seu excelente blog. Se não achar bem, agradeço que mo faça notar.

joaodbaptista2012@gmail.com

Henrique Figueiredo disse...

Caro João,

Começo por responder ao último comentário. Tome a liberdade de usar este artigo onde bem entender. Neste blogue primamos pela liberdade, como já deve ter notado :)

Quanto à questão principal: há questões boas e más da UE. As más, como os ingleses já vêem reparando é que Bruxelas se imiscui demasiado na política interna dos países-membros. Seja por legislação laboral ou por alocação de recursos de forma negativa. No entanto, há coisas na UE que gostaria de ver mantidas. Uma zona livre de barreiras alfandegárias é uma delas (e talvez a principal). Detesto centralizações forçadas e é para onde, infelizmente, caminhamos. Já apoiei este ideia, baseado em falsas premissas que vejo estarem a desfazerem-se. A confederação seria apenas uma ideia, talvez algo de "transição". Mas o principal e que acho que deve ser mantido é, sem dúvida, o mercado único. Isso seria, com certeza, um excelente exemplo para o mundo de como mercados livres estão associados a evolução económica.

 
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