A cada dia que passa a questão torna-se mais nítida, tal é o
ruído que se tem formado em volta dela. Uma pergunta simples e que, no entanto,
tem bastante que se lhe diga. Queremos mesmo eleições?
Há determinados factores que devem ser ponderados, antes de
chegarmos a uma resposta definitiva. O primeiro baseia-se nas inúmeras
sondagens que têm vindo a público nos últimos tempos. Em todas as que vi, não
havia um partido que conseguisse a maioria absoluta. Numa delas, a única
possibilidade que havia seria uma “Frente de Esquerda”. Coisa difícil, dadas as
diferenças existentes entre PS e PCP e entre os dois últimos e o Bloco de
Esquerda.
Claro que também poderia ser formado um governo de Bloco
Central. Outra hipótese que me parece francamente despropositada, dada a
necessidade do PS se demarcar das políticas que estão a ser seguidas. Em ambos
os casos, o PS sofreria fortes convulsões internas.
Ora, um governo minoritário em tempos de emergência nacional
não seria de longa duração. Um governo minoritário que nunca poderia optar por
nada menos do que austeridade, seria rapidamente derrubado por uma qualquer
moção de censura. Quem acha o contrário, que veja o exemplo de José Sócrates e
do seu efémero governo de minoria.
Olhemos para a Grécia. Há quem diga que é Portugal um ano
adiantado. Tomemos isso como certo. A verdade é que a coligação formada pela
Nova Democracia, PASOK e Esquerda Democrática começa a desfazer-se. Os gregos,
com tantos avanços e recuos, estão perto de entrar em bancarrota. As ruas
deles, como se sabe, estão a ferro e fogo. O conflito entre extrema-esquerda e neonazis está no auge.
A verdade é que parece haver alguma estratégia em certos
sectores políticos, para exigirem de forma tão veemente um acto eleitoral em
plena tempestade. Há quem queira causar, sob todas as formas, tal instabilidade
político-social que, depois isto só possa ser resolvido “à bruta”. Um
disfemismo para revolução. E uma revolução não se faz democraticamente. Uma
revolução faz-se “com revolucionários” não com a maioria, já dizia Cunhal.
O período é difícil e exige reflexões profundas. Portugal
está no limite da fadiga económica e os portugueses não aguentam mais
austeridade. Passos já percebeu isso e também tem noção da morte política que o
espera se for a eleições. Daí ter dado os primeiros sinais de recuo. Daí querer
“refundar”.
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